Depois de escrever avaliações imparciais de várias motocicletas, quero fazer algo mais pessoal a respeito delas.
Em 2008, logo depois do lançamento da Yamaha Crypton 115 tive oportunidade testá-la por alguns dias — e dizer o que achei no site MotoReport. Como tive boas experiências com minha Crypton 105E 2001, resolvi levar a nova moto para um lugar recheado de curvas fechadas, onde perigosamente costumava passear.
Três anos depois daquele teste precisei de uma moto nova. Pelas breves experiências com motos grandes percebi que para o dia a dia precisava de algo pequeno, leve e agradável também à esposa, que utilizaria com a mesma frequência. A opção lógica para boa parte dos motociclistas seria chinesas, Lead 110, Biz 125 ou Pop 100. Descartei todas por motivos diferentes.
As “sino-brasileiras”¹ nunca me agradaram pelos incontáveis defeitos, desde motores mal afinados, peças frágeis e pneus de péssima qualidade a concessionárias que fecham sem avisar (vide os casos das sumidas Sundown e Kasinski).
Scooters são confortáveis, práticos e bonitos. Posso dizer que são perfeitos. O problema de tê-los está nas cidades com ruas esburacadas, inimigos cruéis das rodas pequenas e da massa não suspensa² sobre a roda traseira (comentários técnicos no final do texto).
A opção de quase todo mundo seria a Biz 125, com bagageiro grande, belo visual e bom acabamento, qualidade Honda... enfim. Mas não foi minha opção. A Biz sempre foi uma moto familiar, com suspensão traseira dura, dianteira molenga e chassi largo. Prática, mas nada animadora.
Jamais considerei comprar uma Pop. Além de extremamente feia, mal-acabada e fraca, custava apenas R$ 300 a menos que uma Crypton 115ED, com partida elétrica, freio dianteiro a disco e aparência muito melhor. Bons freios, boa capacidade de atacar curvas, suspensão macia, corpo esguio... e a pequena Yamaha ganhou minha garagem.
Apesar da escolha, não me agradei com as opções de cores. Prata só fica bem em carro de luxo, vermelho puro só em Ducati e preta não é cor. Acabei ficando com a última opção. Um absurdo uma moto destinada ao público jovem ser oferecida inicialmente me apenas três cores ridículas. Ainda bem que a Yamaha reviu isso.
Rodei bastante com a Crypton 115 e peguei estrada algumas vezes — quase sempre sem destino. Gostava do acerto de suspensão, do farolzinho eficiente e do relativo conforto. Não me agradava a aspereza do motor em altas rotações, algo que não existia na boa e velha Crypton 105³. Também achava as relações de marcha muito curtas, mas entendo que a moto é urbana e precisa ser ágil.
Preciso explicar algo aos críticos de plantão: sou um entusiasta de carros e motos, e portanto, qualquer carro e moto é interessante. Sei que uma Ténéré é mais valente e uma CBR é mais rápida. O aspecto que valorizei ao comprar a Crypton foi adequação ao uso. Poderia ter comprado uma Ninja 250, mas certamente não teria ficado satisfeito como fiquei no uso que fiz. Se não tivesse outras opções de transporte, certamente teria escolhido a Kawasaki.
Acho importante comprar uma moto adequada ao uso e ao biotipo. Jamais teria coragem de comprar uma BMW R1200GS Adventure, apesar de achá-la linda. Além de não ter dinheiro suficiente para tanto, não a usaria para o que foi feita e não teria capacidade de dominá-la como se deve.
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Desmontada após um acidente |
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Minha Crypton antiga no habitat |
_¹ Poucas motos chinesas são agradáveis de usar e inspiram confiança, pelo menos as que chegaram ao Brasil. Entre as raras exceções estão as motos da Haojue, vendidas pela Dafra e pela Suzuki.
_² Massa não suspensa é o peso que está abaixo da suspensão. Fazem parte dela roda, pneu, câmera de ar e sistema de freio. No caso de scooters, a transmissão CVT também faz parte e acaba por agravar os impactos na roda.
_³ A Crypton da primeira geração tinha motor suave que girava até o limite sem se mostrar áspero, algo interessante em um motor pequeno.
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