20 de set. de 2016

Yamaha RD 350, a viúva-negra



Algumas motos tornam-se lendas e ganham a admiração e o desejo de motociclistas de todas as idades. Uma dessas motos é a Yamaha RD 350, esportiva dois-tempos lançada em 1973 que fez história por mais de duas décadas.

A sigla RD vem de racing development, ou desenvolvida para corridas. O 350 é referência ao motor de exatos 347 cm³, dois cilindros paralelos, dois-tempos, refrigerado a ar e capaz de render 39 cv a 7500 rpm e 3,8 kgf.m a 7000 rpm. Dado a designação e o comportamento do motor, era realmente uma moto própria para corridas. Não fosse os freios muito aquém do desempenho.

Com um pequeno disco sólido na dianteira e tambor na traseira, pneus 3.00-18 e 3.25-18, a RD 350 andava muito e não freava suficientemente bem. Envoltos no prazer de acelerar um motor tão temperamental, muitos motociclistas esqueciam do problema dos freios e acabavam mal. Não à toa a moto ganhou o apelido de viúva-negra, em referência à espécie de aranha que mata seu parceiro após a cópula.



Aquela primeira Yamaha seria hoje uma espécie de Fazer 150 com motor da R3, com um problema a mais. Enquanto o motor da R3 oferece potência satisfatória em médias rotações, o dois-tempos não era linear — dava um surto de potência a partir das 5000 rotações — e exigia altas rotações para entregar força útil. Era típico motor de competição, com estreita faixa entre torque e potência máximos. Ou acelerava tudo, ou não andava.

Embora se comportasse como bólido de corrida, a RD 350 tinha estilo tradicional, com cromados, escape 2x2 e vários elementos de estilo circulares. Era o formato típico de grandes motos da época, como a Honda CB 750. Aliás, essa foi a maior concorrente da Yamaha em todo o mundo. Apesar de ter motor maior, não raro a sete-galo era vítima da eficiência do motor dois-tempos e perdia provas de desempenho. Até hoje a rivalidade de ambas é motivo de discussão entre fãs de cada marca.

A primeira geração da RD 350 foi lançada no Brasil em 1974 e vendida até 76, quando as importações foram proibidas no país. Após hiato de dez anos a Yamaha passou a produzi-la em Manaus, já em terceira geração. Com visual e mecânica revistos, a RD 350LC tornava-se uma esportiva mais madura, com estilo coerente com os anos 80, freios melhores e ainda mais potência.



A moto recebeu carenagem parcial com para-brisas e retrovisores presos a ela. As rodas deixavam de ser raiadas e os três discos de freio saltavam aos olhos, talvez para dizer que o antigo problema de frenagem fora sanado. Novos guidão, assento e pedaleiras impunham outra posição de pilotagem. A suspensão traseira evoluiu para o sistema Monocross da marca e os pneus ficaram mais largos, 90/90-18 na dianteira e 110/90 na traseira.

Na parte mecânica a evolução também foi notável. Com os mesmos 347 cm³, o dois-cilindros passou a ter refrigeração líquida (daí o LC, de liquid cooled) e ser equipado com o Yamaha Power Valve System, sistema eletrônico de válvula movida por servomotor com informações do CDI e responsável por variar a vazão de gases para o escapamento na porta de saída de cada cilindro.

Em baixas rotações o YPVS fechava a saída para deixar o motor com mais torque útil e em altas abria para os gases saírem livremente. Era é uma espécie de controle de válvulas variável para um motor que não possui válvulas. O sistema amenizou o surto de potência e deixou a moto um pouco menos nervosa. Não que ela tenha ficado mansa: eram 55 cv a 9000 rpm e 4,74 m.kgf a 8500 rpm. Com cambio de seis marchas, a nova 350 podia chegar a 100 km/h em cerca de seis segundos e beirar os 200 km/h de máxima.



Em 1987 a Yamaha concentrou a produção mundial no Brasil, adotou a designação RD 350R, passou a equipá-la com discos perfurados, carenagem integral e suspensão dianteira Showa. Partida a pedal e carburador Mikuni VM 26 permaneceram. Em 1991 o farol quadrado foi trocado por dois redondos.

A moderna e bonita Honda CBR 450SR juntou-se a mudanças tributárias na Zona Franca de Manaus para impor um fim à trajetória da RD 350 em 1993. A Yamaha do Brasil continuou produzindo motos dois-tempos até o ano 2000, quando finalmente rendeu-se aos quatro-tempos até mesmo no segmento popular, inaugurado três anos antes pela Crypton 105.

A pequena e nervosa esportiva fez história por mais de duas décadas (foi vendida até 1995 em alguns mercados) e deixou uma legião de fãs. Embora o apelido não fizesse tanto sentido a partir da segunda geração, a RD 350 sempre será a lendária viúva-negra.